domingo, 4 de abril de 2021

A primeira história para dormir

"Era uma vez uma borboletinha e a mãe dela. Ela estava voando, a mãe dela carregando coisas pequenas e o pai dela carregando coisas pesadas. Apareceu na frente dele e ele deu um chute para longe. Daí eles foram no parque das borboletas. E fim."


Stela, 4 anos

Se você não viu nada demais nesta história, ou pior, só viu o que falta, seja grato. Você nunca ouviu que sua filha não teria pensar simbólico, o lúdico, e quem sabe quando ia falar. Ou se perguntou o que poderia fazer - ou pior ainda, ter feito - para que alguém que você ama tanto consiga atingir todo o potencial que tem.

Mas nem faça essa cara, porque você também perdeu grandes emoções. O suspiro fundo que sacudiu o coração da primeira vez que essa irmã amorosa mas independente seguiu suas orientações e deu um recado inteiro (bater na porta do Enzo e avisar que o almoço estava na mesa). A felicidade despretensiosa de quando ela, de cabeça baixa levando bronca, olhou no seus olhos e diz "Abraço!", tentando te enrolar. O orgulho feroz de quando a pessoinha respirou fundo e explicou que preferia outra brincadeira quando o irmão gêmeo a aporrinhava, em vez de partir pro 'chega pra lá' usual, com o pé.


E por essas e outras, eu sim, leitor desavisado, poderia fazer essa cara de dó de você.


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