domingo, 4 de abril de 2021

A primeira história para dormir

"Era uma vez uma borboletinha e a mãe dela. Ela estava voando, a mãe dela carregando coisas pequenas e o pai dela carregando coisas pesadas. Apareceu na frente dele e ele deu um chute para longe. Daí eles foram no parque das borboletas. E fim."


Stela, 4 anos

Se você não viu nada demais nesta história, ou pior, só viu o que falta, seja grato. Você nunca ouviu que sua filha não teria pensar simbólico, o lúdico, e quem sabe quando ia falar. Ou se perguntou o que poderia fazer - ou pior ainda, ter feito - para que alguém que você ama tanto consiga atingir todo o potencial que tem.

Mas nem faça essa cara, porque você também perdeu grandes emoções. O suspiro fundo que sacudiu o coração da primeira vez que essa irmã amorosa mas independente seguiu suas orientações e deu um recado inteiro (bater na porta do Enzo e avisar que o almoço estava na mesa). A felicidade despretensiosa de quando ela, de cabeça baixa levando bronca, olhou no seus olhos e diz "Abraço!", tentando te enrolar. O orgulho feroz de quando a pessoinha respirou fundo e explicou que preferia outra brincadeira quando o irmão gêmeo a aporrinhava, em vez de partir pro 'chega pra lá' usual, com o pé.


E por essas e outras, eu sim, leitor desavisado, poderia fazer essa cara de dó de você.


quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Ciclos

     Quando o chuchu number two se foi, a vida - ou planos para ela - pareceram ficar suspensos; eu me sentia em um tanque de privação de sentidos do Fringe (alerta de referência nerd). E, quando soube da nova gravidez, acho que eu acreditei que retomaria a partir dali, de uma sala de ultrassom para outra. Como se o ciclo tivesse sido só pausado, e não fosse outro momento, outra gestação, outra Cristina - só que não.
     Quando me perguntam porque chorei ao receber a notícia dos gêmeos, digo de todo coração que não sei.

Hoje o Oliver me abraçou e chamou de "fofinha", e eu lembrei de uma fase do Enzo em que ele andava muito 'apaixonado' pela mamãe, e me chamava de "minha fofa". E eu entendi que os ciclos são assim mesmo, eles não param, mas não da forma que esperamos.

Para saber quem era o Enzo e quem é o Oliver, se pergunte: mãe de três escolheria qual roupa para comer chocolate?

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Orgulho da mamãe

   Ele não foi um príncipe, foi José Bezerra - ou Flynn Rider, para os que o conheceram nos tempos de ladrão. Mas deixou a mamãe com um orgulho...

   Explico: desde o início do ano, estamos tentando colocar o Enzo para fazer um esporte/ atividade física, mas sendo filho de quem é, o negócio não saiu. Em julho dei um ultimato e marquei várias atividades para fazer aula experimental, começando pelas da escola, especificamente pelas danças.

   Concordo com vocês, o cara que não me deixa nem ouvir música? Ele mesmo. E, pasmem: sapateado foi o escolhido! Já bateu aquele baita orgulho de ser a mãe e não ter caído longe da árvore, porque também sempre quis.

   A apresentação do Studio aconteceu nesse sábado, com o tema Festa no Castelo. Princesas!! Um desafio? Bem, a turma dele ia dançar a Rapunzel (adoooorooo), então ficou fácil: ele já foi chamado de príncipe logo de cara e gostou - mas não tinha assistido ao filme para saber a real.

   Em agosto, a pressão para decidirmos se ele iria ou não participar, e duvido de cara - não dele, mas da sua capacidade de arriscar. E ele, sereno, "acho que vou participar, sim". Mamãe pega emprestado um DVD com a gravação de 2018 para ele entender o que era uma apresentação - nunca curtiu teatro ou coisas ao vivo, desde aquela fatídica apresentação de João e o Pé de Feijão (jurava que tinha link por já ter contado esta história). E ele, tranquilo, "legal". Gosh, não caiu longe da árvore MESMO.
Ok, ele que sabe.

   Teve (poucos) dias em que ele se preocupou, é verdade, e conversamos para tentar resolver as questões. Outros (não) tantos (assim) quando ele quis mostrar o que já havia ensaiado, e outra meia dúzia de vezes em que o peguei cantando a música:


         (...) Então voltar a ler se tempo me sobrar
Pintar um pouco mais sem nunca terminar
Depois o meu cabelo inteiro escovar
Mas sem sair deste mesmo lugar

Imaginando mas quando, mas quando a minha vida vai começar?

     No dia, indo para o teatro, aquela conversa a dois: se errar, não desmonte, você é o único príncipe, vão achar que a coreografia é diferente; sorria e acene (melhor conselho dos Pinguins de Madagascar pra vida); já está fazendo algo corajoso, que uns 90 e tantos por cento não sabem fazer, e quase a mesma porcentagem não se arriscaria; e eu te amo.
  Para sempre.


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Herdando a dentadura do papai e da mamãe

Existia essa lenda urbana sobre pessoas que herdavam a dentadura dos pais, porque antigamente era um 'bem' de luxo, tipo telefone. Digo que é lenda porque, para escrever aqui, pesquisei no Gúgol antes, e como só achei um caso, acho que as coisas tomaram proporção de lenda. Mas o fato é que eram caríssimas, sim (minha própria herança de lembrança da faculdade de Odonto), e alguns falecidos ainda levavam a chapa com dente de ouro (bom disfarce).

Maaaaas, onde estávamos mesmo? Os pais do Enzo não usam dentadura, obrigada pela parte que me toca, mas deram uma bela herança pro nosso menino: belos e grandes dentes, arcada de mentira. Para fazer um rápido cenário histórico, eu usei aparelho dos 1???? até os 20 anos, arranquei 4 pré-molares, futuramente acompanhados por mais 4 dentes do siso - e daí vem minha desculpa quando eu quero surtar, coitada, não tem juízo - e até hoje tenho um araminho pra dar uma segurada nos inferiores (Pasmem, vai fazer 20anos!!). Já o papis também usou aparelho por um tempo, mas acho que a agulha da anestesia para arrancar os empecilhos para um sorriso alinhado o assustou de vez e ele desistiu, exibindo aquele sorriso meio encavalado mas simpático que tanta gente ama (estou falando do Enzo e mim, aqui).

Adivinhem essa: qual o nível de surpresa sobre a possibilidade do chuchuzinho ter uns ferrinhos por aí logo, logo?

Os dentes centrais superiores demoraram uns 2 anos desde a primeira vez que pareceram estar moles, a caíram bem seguidinho um do outro: o primeiro no domingo, 3/4/16, comendo um hambúrguer no vizinho, o outro quando enroscou 'sem querer' no fio dental da dentista na sexta-feira daquela mesma semana, dia 8/4. E dá-lhe janela!! E mais outra, na lateral direita! E finalmente, uma por pura falta de espaço pro vizinho grandão crescer, quando a mamãe super mega ultra corajosa arrancou o bichinho  lateral (que estava preso por uma ponta de 0,5mm...) em 13/06!


A dentista (nova) admitiu que sua troca estava mesmo atrasadinha, e aproveitou para encaminhar para a ortodontista. Sim, os dentes dele estão fora do padrão, com desvio da linha média - coisas de mamãe - mas nada que comprometa AINDA. Agora, o mais doido foi ela dizer que pelo cheiro da boca dele dá pra saber que ele estava com secreção nos seios nasais (A.K.A. sinusite e encaminhá-lo para um otorrino!!). Falou para eu cheirar e tudo - mal sabe ela que essa parte de nariz defeituoso também veio da mamãe - mas, ao consultar o otorrino, já estava tudo bem, e ainda deu pra saber se há algum impedimento para uma futura correção, o que descobrimos que não (pasmem, acho que isso deve ter sido o lado do papai mais forte...)...

Enfim, ontem fomos para a próxima consulta, e tudo certo, na medida da tortura. Agora, esperemos pela consulta em novembro, enquanto ficamos na torcida de mais espacinho naquele sorriso :-D

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Pré - pré - adolescência

E, finalmente, aconteceu. Ontem, o Enzo falou que preferia morar em outra casa.

Ele jogou vídeo game à noite com o papai por meia hora, antes de dormir. Mas, quando deu a hora, ele queria jogar mais, porque chegou à conclusão que queria jogar no tablet, que ele nem gostava mesmo do jogo anterior, blablabla... A gente não deixou, claro.

Ele então tentou negociar, queria um tempinho extra, e até trocar a historinha nossa de cada noite por uns dez minutinhos jogando. E a gente não deixou. Então ele falou, chorando:

"Ai, às vezes, só às vezes, eu queria morar em outro lugar."

Eu o sentei no meu colo e perguntei onde, e sua resposta foi o silêncio - eu acho até que ele deve ter pensado na casa da vovó, ou algo assim, mas aí ele disse:

"Em algum lugar onde, quando eu quisesse jogar mais um pouquinho, eu pudesse. 
Só mais um pouquinho."

Falei pra ele que esse lugar chamava futuro, que quando ele chegar lá, ele vai poder escolher quando e se ele quiser jogar mais um pouquinho. Falei que, mesmo se ele morasse em outra casa hoje, ele teria que morar com alguém que o ame e a quem ele ame também, que cuide direitinho dele, e se a pessoa é assim, iria cuidar dele também nisso, e essa pessoa não poderia deixá-lo jogar sempre, muito mais, de qualquer forma...

 Faz parte do amadurecimento - mas que dá uma dorzinha no coração ouvir...

Verdade seja dita, buscamos respeitar (dentro dos limites), mas quero ter um treco quando ele tem certos ataques de braveza - há alguns meses, tirei a chave do banheiro do quarto dele, porque ele começou a se trancar lá quando estava bravo. Se ele fecha a porta, respeitamos e batemos antes de abrir - mas trancar não dá, né? 

Há mais ou menos duas semanas, ele me disse que eu não era muito boa para ele. Oi?!? Tudo porque eu falei que, se ele não achava mais nenhum brinquedo dele legal e não os queria mais, devíamos dar para quem precisa, em vez de deixá-los só bagunçando o quarto, que estava um caos; e quando eu passasse o aspirador, ainda corria o risco de comer pecinhas - principalmente Lego...

E é isso. Primeira informação oficial de que um dia, talvez, ele fuja de casa.